sábado, 9 de abril de 2011

Capítulo 1: “Jenniffer Fontana”


-JENNIFFER!Que demora é essa?Eu to atrasada!
            -Pronto, mãe, ‘tô aqui, e você não está atrasada porque você não marcou com ninguém!E pela enésima vez, me chama de Jenny, ta.
            -Ta ta... Mas, filha, que roupa é essa?Tira esse colete!
            -Mãe, para de me dizer o que vestir, que coisa...
            - Ta, desculpa, mas é que ta meio ridículo...
            -Ai, ta bom, eu tiro, feliz?
            -E pega uma blusa!
            -Fazer o que...
            Jenniffer Fontana, ou como prefere ser chamada, Jenny, é uma adolescente de 12 anos, não muito normal. Não era como as outras, que corriam atrás de garotos, e apaixonadas por astros teen, não. Geralmente, ela preferia ficar com suas amigas, ou no seu quarto, no computador, vendo suas tão amadas séries americanas de comédia, ou assistindo filmes de ação, ficção, ou quando estava “á toa”, lendo um livro, geralmente policial, ou de ficção também.
            Ela odiava quando seus pais ou seu irmão criticavam suas roupas e combinações, sabia que elas eram estranhas, mas as achava legais, e bonitas, e não se importava com o que os outros pensavam.
            Nesse dia, ela estava indo á biblioteca com os seus pais e seu único irmão, Harry, que agiam da mesma maneira todas ás vezes em que entravam no carro: seu irmão ouvindo músicas em seu MP4, e sua mãe e seu pai , em uma animada conversa pondo ás novidades em dia.Mas Jenny preferia ficar ali, olhando distraidamente pela janela, sem realmente prestar atenção em nada, apenas absorta em seus pensamentos...
            Começava a chover, e ventar muito forte do lado de fora, e embora sua janela estivesse fechada, a de seu pai, a frente, a incomodava muito:
            -Pai, ‘tá ventando aqui, fecha o vidro, por favor!
Ele não escutou, e consequentemente, também não fechou o vidro:
            -PAI!
            -O QUÊ?
            -O VIDRO, EU DISSE PRA FECHAR!
            -Desculpa filha, não estava ouvindo!
            -Tudo bem pai, sem problemas...
            Já não esperava que ele a escutasse. Eles nunca escutavam nada que ela dizia. Não que não a amassem, pelo contrário, sabia Jenny, só não prestavam muita atenção. Jenny também odiava isso.
            O resto da viagem correu normal, e embora ainda ventasse excepcionalmente forte lá fora, a chuva havia parado.
            Deixaram seu irmão na casa de seu tio, (e padrinho de Jenny), e seguiram até a biblioteca. Chegando lá, ironicamente começava a chover novamente, e enquanto seus pais corriam, Jenny não se apressou nem um pouco, era só água afinal, correr da chuva era como ter medo da água, assim ela pensava. Mas infelizmente, sua mãe não:
            -Corre, filha, você vai ficar toda molhada!
            -Calma, mãe, é só água, não machuca ninguém!
            -Tudo bem, quando ficar gripada não vai me pedir ajuda, que tal ficarmos todos aqui, na chuva?É só água afinal, né?...Vamos entra rápido!
            Dentro da biblioteca, seus pais foram para os computadores, checar no acervo, os livros que sua mãe precisava para seu trabalho da universidade. Ela fazia faculdade para que lhe rendesse um melhor cargo no trabalho.
            Jenny, sem nada pra fazer ali, decidiu olhar alguns livros.
            -Gente, vou ver os livros, ta?
            Não houve resposta.
            -Não que alguém se importe...
            Disse já se dirigindo ás prateleiras, não como uma crítica, mais como uma ironia, como nas suas séries americanas favoritas, que imitava ás vezes.
            Olhou os livros, mas eles pouco lhe interessavam, havia vários sobre Anatomia Humana, Direito, e Física Avançada, nada que ela gostava, ou mesmo entendia, até que achou um sobre monumentos marcantes da Europa, que continha fotos muito bonitas, e explicações e curiosidades muito interessantes, e como gostava muito de lá, e sonhava em ir até lá algum dia, pegou o livro, e se sentou em uma mesa próxima, e começou a folheá-lo, analisando demoradamente cada foto, já que provavelmente ia ficar muito tempo ali.
            Mais tarde, Jenny observou de longe um estranho acontecimento. Seus pais receberam um telefonema, que Jenny imaginou ser de seu irmão, que os deixou completamente perplexos. Em seguida, eles pegaram os livros apressadamente, e correram em direção a Jenny, que fingiu não estar observando a estranha cena:
            - Vamos filha, já temos o que precisamos.
            - Mas mãe, esse livro é ótimo, deixe-me acabar de ler!
-Disse Jenny, apenas para ver a reação da mãe, que foi exatamente a que ela esperava:
            -Não, Jenniffer!Eu já falei que a gente vai embora, eu ‘tô cansada, vamos!
            -Tudo bem, deixe só eu guardar esse livro...
            Ela guardou o livro e ficou pensando a viajem toda, o que poderia ter-lhes causado aquela reação, e quando percebeu, já estava na casa de seu tio, para pegar seu irmão. Observou uma rápida troca de olhares inseguros, e um leve aceno de cabeça de seu tio.
            A viagem de volta para casa foi decididamente estranha. Sem conversas, sem MP4, sem um ruído sequer, e observou pelo retrovisor central, seu pai suando e olhando de tempos em tempos para ela, inseguro e preocupado, e embora não pudesse ter certeza, tinha a forte impressão de que sua mãe e seu irmão se comunicavam silenciosamente pelo retrovisor do lado do passageiro, mas mesmo assim não falou nada, apenas observou. Se tinha uma coisa que Jenny tinha aprendido em seus livros e filmes, é que tudo se explica em seu devido tempo.Mas se lembrava de uma viagem parecida , de seus pais agindo do mesmo jeito,foi quando...Ela perdeu o raciocínio pela aparição de dois sujeitos a porta de sua casa, com roupas muito formais, pretas e brancas.Era uma roupa bem bizarra, mas tinha estilo próprio ,e Jenny de cara gostou desse estilo. O carro ainda estava um tanto longe, então não dava para ver o rosto deles. Mas quanto mais ele chagava perto, mais estranhos eles lhe pereciam. Não um estranho feio, pensou Jenny, era apenas diferente, de um jeito legal, e ela achou o máximo. Foi quando percebeu que ela parecia ser, e pelo visto era, a única que estava surpresa ali.
            Quando finalmente chegaram a porta de casa, sua mãe desceu, e começou a conversar com eles, como se os conhecesse a muito tempo. Depois de uma rápida conversa, fez sinal para que Jenny e os outros descessem, e a esse ponto, Jenny já não entendia mais nada:
            -Pai, quem são esses caras?
            -Você já vai entender tudinho, filha, já vai...
            -...
            Eles desceram, e agora Jenny podia ver exatamente como eram. Os dois tinham um ar muito jovial, e divertido, embora agora estivessem muito sérios. O mais alto, estava vestido com um terno de estampa xadrez, uma camisa social preta, uma gravata de listras diagonais, pretas e brancas, uma calça quadriculada, sapatos pretos, e pra completar, um chapéu risca-de-giz preto, que contrastava estranhamente bem com seus cabelos cor-de-fogo vivíssimo. Tinha um bigode bem feito, um cavanhaque, e cabelos em abundância, que, achou Jenny, ficavam muito bem com seus olhos azul-esverdeados.
O bigode e o cavanhaque destacavam muito seu sorriso, que Jenny achou contagiante.
            O outro homem usava roupas iguais a do ruivo, apenas com estampas diferentes. O terno era quadriculado (quadrados bem grandes), uma camisa branca, gravata de listras na vertical, uma calça xadrez, sapatos brancos, e chapéu de risca-de-giz branco. Este homem também tinha muito cabelo, mas dessa vez, pretos, e estranhamente brilhantes, eram lisos e um tanto bagunçados, de um jeito bonito, achou Jenny. Seus olhos foram o que mais chamou a atenção de Jenny, eram um castanho mel, muito claro, quase que um amarelo palha, mas mesmo tão claros, eram vivos, fortes, e penetrantes. Jenny os achou encantadores, e destacados pela barba por crescer pelos cantos do rosto, e também o bigode, ainda ralo.
            Jenny estava tão distraída observando-os, que se assustou quando um deles se dirigiu a ela:
            -Bom dia, você deve ser Jenniffer Fontana, não? - disse o ruivo lhe estendendo a mão
- Meu nome é Ross.
            -Sim, sou eu, Jenny, por favor, prazer Ross.
            -Ah, o prazer é todo meu... Hem, Jenny!-Disse um pouco sem jeito.
            -E você, é...?-Perguntou Jenny ao outro homem.
            -Eu sou John, senhorita Jenny!-disse ele também estendendo a mão
-Muito prazer!
            -Também! - falou, apertando-lhe a mão, e pensando “uau, ele me chamou de senhorita? Nossa, que educado, gostei deles!”.
            Eles entraram em casa, e após um convite, os homens se sentaram no sofá e sua mãe disse para Jenny sentar-se á frente deles. Sua mãe encostou-se à parede um pouco distante, mas não tanto que não pudesse ouvir e seu pai e seu irmão ficaram na escada, a vista, também podendo ouvir, e Jenny achou que estava mais do que óbvio que todos sabiam o que estava acontecendo, menos ela. Observou seu irmão que sorria seu pai e sua mãe apreensivos, e preocupados. Até que Ross e John finalmente tomaram a palavra:
            -Srtª. Fontana precisamos lhe falar uma coisa.

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